terça-feira, 7 de agosto de 2012


O VALOR EDUCACIONAL DAS  HISTÓRIAS

Profa. Nelma Paula de Almeida Valentim

Tomando por base o livro Técnicas de contar histórias – um guia para desenvolver as suas habilidades e obter sucesso na apresentação de uma história de Vania D’Angelo Dohme, temos a compreensão de que as histórias são excelentes ferramentas de trabalho na tarefa de educar e vários motivos existem para isso:

·         As crianças gostam muito

·         Levam a uma empatia com os alunos

·         A variedade de temas é praticamente inesgotável

·         Pouca exigência de recursos materiais para sua aplicação

·         Os vários aspectos educacionais que podem ser focados

Por meio dos exemplos contidos nas histórias, as crianças adquirem maior evidência. O contato com os impulsos emocionais, as reações e os instintos comuns aos seres humanos e o reconhecimento dos fatos e efeitos causados por estes impulsos são exemplos de vida.

Segundo a autora, as histórias são muito úteis para trabalhar os seguintes aspectos internos da crianças:

ü  Caráter: Histórias escolhidas de feitos heróicos, conteúdos que encerram lições de vida, fábulas em que o bem prevalece sobre o mal são lições que as crianças absorvem.

Por meio das histórias, os meninos defrontam-se com situações fictícias e percebem as várias alternativas que elas oferecem, podendo antever as conseqüências que a decisão por cada uma delas trará. Com isso adquirem vivência e referências para montar os seus próprios valores.

ü  Raciocínio: As histórias mais elaboradas, de enredos intrigantes, agitam o raciocínio das crianças, que as acompanham mentalmente, interrogando-se como agiriam naquela situação.

ü  Imaginação: os meninos ouvem atentos as narrações e com isso acompanham-nas mentalmente. Desta forma consegue-se situações verdadeiramente formidáveis! Com elas podemos transitar pelo tempo e o espaço, estando ora na pré-história, ora pisando em galáxias estranhas. Podemos “bater um papo” com Hércules, participar de rituais indígenas ou conhecer a selva. Nas histórias tudo é possível!

O exercício da imaginação traz grande proveito às crianças, primeiro porque atende a uma necessidade muito grande que elas têm de imaginar. As fantasias não são somente um passatempo; elas ajudam na formação da personalidade na medida em que possibilitam fazer conjecturas, combinações, visualizações como tal coisa seria “desta” ou “de outra forma”.

·         Criatividade: Uma vez que a criatividade é diretamente proporcional à quantidade de referências que cada um possui, quanto mais “viagens” a imaginação fizer, tanto mais aumentará o “arquivo referencial” e, consequentemente, a criatividade.

As histórias aumentam o horizonte dos ouvintes, com elas: eles “conhecem a China”, “pisam na Lua”, voam através do tempo, da pré-história aos dias de hoje, travam conhecimento com fadas, duendes, monstros e heróis.

Estas emoções semeiam a imaginação e estimulam a criatividade.

·         Senso Crítico: A cada dia que passa assistimos abismados à falta de senso crítico nos indivíduos. Aumenta a procura de elementos massificantes, tais como grifes e modismos, tolhendo e até envergonhando o indivíduo de ter as suas próprias idéias.

É preciso que as pessoas tenham olhos para ver a realidade da sociedade que as cerca, identificando as atitudes que levam à prosperidade, para incentivar estas e reprimir as danosas, e saber manejar as suas opiniões, para que em conjunto com o pensamento dos demais, possam ter uma vida útil e feliz.

As histórias atuam como ferramentas de grande valia na construção desse senso crítico, porque por meio delas os alunos tomam conhecimento A visão de outras realidades fará com que vejam “os dois lados de uma mesma moeda”, gerando tomadas de posições e construindo uma personalidade ativa.

·         Disciplina: É entendida como aceita e praticada espontaneamente pela criança e não como algo imposto inquestionavelmente pelo educador.

No momento que trabalhamos com algo que a criança realmente gosta, que sente que foi preparado com carinho para ela, as chances de ter uma postura atenta e participativa aumentam muito.

Ela não irá gritar ou fazer algazarra se tiver algo muito mais interessante para fazer: ouvir uma história!

Algo que ela espera ser interessante, porque confia que foi preparado especialmente para ela e para o seu grupo.

A situação fará a criança perceber que existe momento para tudo: brincar, se divertir e também para prestar atenção, e o que é melhor: que vale a pena prestar atenção!

Isso contribuirá para o aumento de sua capacidade de concentração e para o desenvolvimento de uma atitude crítica em relação ao seu comportamento e ao dos demais, ou seja, levará a uma disciplina consciente e assumida pela própria criança.

Transmissão de valores através das histórias

Para Vania Dohme, os valores são fundamentos universais que regem a conduta humana. São elementos essenciais para viver em constante desenvolvimento, baseada no alto conhecimento em direção a uma vida construtiva, satisfatória, em harmonia e cooperação com os demais. Segundo a autora, fazer uma análise de quais valores desejaríamos passar por meio de um processo educacional demandaria uma maior reflexão, mas algumas indagações podem ser feitas:

·         Quais os valores que importam? O que é importante para mim como educador?

·         Que tipo de valores eu reconheço como importante nos demais?

·         Quais deles eu gostaria de ajudar a construir?

·         Quais são adequados a uma criança?

·         Quais deles eu posso transmitir por meio de um processo educacional, levando em conta os meus recursos materiais e humanos?

As repostas não serão iguais de uma pessoa para outra, mas certamente muito semelhantes. De um modo geral, começar a preocupar-se com a transmissão de valores é o grande passo, o envolvimento com a matéria será natural e a satisfação que o retorno das crianças proporcionará será uma mola propulsora para o constante desenvolvimento no trabalho com valores na educação. Alguns autores oferecem sugestões que podem servir de base para reflexão e escolha. De qualquer forma e eleição de determinado valor não deve ser um processo isolado. Ela deve fazer parte de um planejamento em que se levam em conta as características dos alunos, o conjunto de objetivos educacionais e os recursos disponíveis. Na medida do possível, a participação dos pais no processo de escolha e o envolvimento na aplicação são altamente desejáveis.

 A autora apresenta, em ordem alfabética, alguns valores que devem ser trabalhados com crianças:

 ·         Alegria: Boa disposição para fazer as coisas. Propensão a ver e mostrar o lado divertido das coisas.
·         Amor: Desejar o bem para outras pessoas. Ter apego às suas produções e bens, ao meio em que se vive e às pessoas.
·         Compartilhar: Dividir suas coisas com os demais. Reconhecer o direito ou o legítimo desejo das outras pessoas usufruírem igualmente de pertences ou oportunidades.
·         Confiabilidade: Ter uma conduta constante e verdadeira, capaz de conquistar crédito de um bom procedimento.
·         Cooperação: Capacidade a atuar com outras pessoas de forma consistente e produtiva.
·         Coragem: Resolução, perseverança, constância e firmeza perante situações novas e desafiantes.
·         Cortesia: Ser afável, atento e bem-educado.
·         Disciplina: Obedecer a ordens preestabelecidas, combinadas e anteriormente aceitas. Capacidade de praticar atos que resultem no aprimoramento de si próprio ou de sua comunidade.
·         Honestidade: Apropriar-se exclusivamente do que lhe pertence. Conhecer os limites de suas propriedades em relação às de outras pessoas. Ter atitudes coerentes com o seu pensamento e suas convicções. Compartilhar os seus sentimentos de forma verdadeira.
·         Igualdade: Reconhecimento de direitos iguais a todas as pessoas. Não se ater a preconceitos e tratar as pessoas da mesma forma.
·         Justiça: Capacidade de fazer julgamentos desassociados de seus próprios interesses. Ter sensibilidade e disponibilidade para ouvir e entender as razões que levam outra pessoa a determinada conduta. Capacidade de dar a cada um o que lhe pertence.
·         Lealdade: Amor e fidelidade à verdade. Incapacidade de trair, falsear ou enganar.
·         Limpeza: Reconhecer os benefícios da limpeza interna e externa. Ter atitudes para obtê-las.
·         Misericórdia: Reconhecimento e compaixão pelas necessidades alheias. Aceitação e compreensão das limitações dos demais.
·         Paciência: Ter resistência para suportar os reveses. Tranqüilidade para esperar. Aceitar as características e limitações dos demais. Entender que cada um tem o seu “ritmo” e saber conviver com isso.
·         Paz: capacidade de reconhecer os benefícios da harmonia e trabalhar em prol dela.
·         Respeito: Atenção às outras pessoas. Consideração pelas suas atitudes e ações.
·         Responsabilidade: Estar consciente de suas obrigações e disposto a trabalhar por elas. Estar comprometido com aquilo que afirma e com a forma com que se comporta.
·         Solicitude: Estar disposto a ajudar e fazer favores, prestar voluntariamente um serviço ao próximo.
·         Tolerância: Respeito e consideração pelas opiniões e atitudes dos demais.


As histórias infantis e a transmissão de valores

As histórias são úteis na transmissão de valores porque dão razão de ser aos comportamentos humanos. Tratam de questões abstratas, difíceis de serem compreendidas pelas crianças quando isoladas de um contexto. A criança é incapaz de raciocinar no abstrato. Assim, virtudes, maus hábitos, defeitos ou esforços louváveis que interferem no comportamento social do indivíduo, gerando consequências na sua vida, não podem ser entendidos com esta clareza pelas crianças. Falta referencial capaz de associar uma questão de comportamento a um fato: Fulano agiu assim e deu-se mal... a falta de lealdade de Beltrano fez a verdade vir à tona... Se nós adultos, com tanta vivência, muitas vezes nos perdemos na tentativa de associar tendências a fatos, tendo dificuldade de prever se determinada atitude levará à melhor situação, o que pensar das crianças com pouca experiência e com um mundo todo a descobrir! A história traz o abstrato ao entendimento das crianças, e com isso municia-as com experiências que aumentarão a sua vivência, aumentando suas possibilidades dentro do relacionamento social. O trabalho com estas figuras que sintetizam uma série de conceitos também proporcionará ao educador um maior conhecimento de suas crianças, que, expressando suas opiniões dentro do concreto que é a temática da própria história, manifestarão os sentimentos abstratos que provocam o seu íntimo. Em última análise, as histórias ensinam a criança a crescer e a pensar.

Bibliografia:
VANIA D`ANGELO DOHME, Técnicas de contar Histórias. 5ª ed., São Paulo, Informal Editora, 2000.

Extraído de Departamento Nacional de Escola Dominical – Igreja Metodista/Sede Nacional  - www.metodista.org.br


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